Seria possível encontrar uma forragem que reduzisse os gastos de produção? Para responder a essa pergunta, pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) começaram a observar uma possibilidade vinda do sul do Brasil: um tipo de trigo sem aristas que não provoca danos ao rebanho e que pode ser misturado com outras culturas, como o milho, por exemplo. Várias unidades demonstrativas foram criadas, em Minas Gerais, com cerca de um hectare cada uma, para fazer testes que comprovaram a eficiência da lavoura.
O trigo se mostrou uma opção para produtores e produtoras de leite, por ter uma forragem de qualidade na safrinha, ou seja, no período de inverno ou segunda safra. Dessa forma, a terra não fica sem produção em nenhuma das estações do ano. Todas as vantagens do trigo brilhante MGS foram demonstradas no evento Dia de Campo, realizado ontem, 27 de julho, em Ibertioga.
Todas as vantagens da lavoura de trigo
O pesquisador da Epamig, Maurício Coelho, foi o primeiro a falar. Segundo ele, uma das principais vantagens é o baixo custo: a produção necessita apenas de semente e adubo e, no segundo ano, o produtor já terá disponível as sementes produzidas na própria fazenda. Outro aspecto é a rotação de lavoura. Alternar espécies em uma mesma área evita o aparecimento de pragas e doenças. Além disso, o solo sempre fica coberto, o que aumenta a taxa de matéria orgânica e a humidade da terra.
O trigo serve tanto para alimentação humana como para a do rebanho e há várias possibilidades de utilização, como silagem e pasto, por exemplo. O grão também tem excelente resistência ao calor e à seca. É uma espécie de gosta de temperaturas frias, como as da região de Ibertioga. Maurício alertou sobre o período certo de plantio. Sem irrigação, o trigo deve ser semeado a partir do início de março. Com irrigação, pode ser entre maio, junho e julho. Ele também sugeriu que a adubação do terreno deve ser feita apenas com fósforo. Já adubação de cobertura, pode ser com nitrogênio e potássio.
Cada semente deve ser plantada com uma distância de 17 cm uma da outra o que, praticamente, fecha o solo, impedindo o aparecimento de pragas e plantas daninhas. A colheita pode ser realizada de 80 a 110 dias depois do plantio. Maurício falou sobre a principal vantagem do trigo: “É a oportunidade que o agricultor tem de produzir forragem de alta qualidade na safrinha, sem falar no baixo custo da lavoura”.
Ensilagem
Já o coordenador regional da Emater, Túlio Justino, falou sobre as vantagens da silagem de trigo. Segundo ele, é um produto quase tão fácil de ensilar como o milho. Com o trigo, é possível fazer a silagem de dieta total, ou seja, misturar com todos os outros alimentos do gado. No entanto, Túlio alerta que o silo não deve ser aberto antes de 60 dias. Ele explicou ainda que o trigo é um alimento seguro, já que não produz microtoxinas, que atrapalham a reprodução das vacas. Além disso, não traz problemas gástricos. “Outro aspecto interessante é que o trigo não compete com outras culturas, como o milho e a soja. Ele melhora o solo e pode ser usado para pasto, silagem e feno”, concluiu.
O trigo brilhante na região
O proprietário da Fazenda São José, Antônio Augusto Rodrigues Miranda, é o primeiro produtor de Ibertioga a apostar no trigo como alternativa na safrinha. Ele conheceu a possibilidade há um ano e fez o plantio do trigo em abril de 2024. Segundo Antônio Augusto, o objetivo da fazenda é produzir leite de alta performance e o trigo se revelou como uma excelente solução para manter o solo ocupado, livre de pragas e com mais um opção de silagem e de pasto a um preço muito atrativo.
O produtor pretende seguir investindo na lavoura do cereal. “O que me chamou a atenção também foi a possiblidade de equilibrar o sistema. Eu não gosto de usar agrotóxico e, com o trigo, há menos pragas e eu consigo que a terra seja produtiva o ano todo”, afirma.
Para a presidente do Sindicato Rural de Ibertioga e produtora, Eliane Filardi, o trigo pode ser uma boa alternativa, especialmente para longos períodos de seca, como agora. A estudante de agronomia do Instituto Federal de Barbacena, Daniele Gonçalves, gostou de aprender sobre o assunto. Ela disse querer saber mais para, quem sabe, sugerir a lavoura de trigo pra família que tem uma produção rural na Colônia Rodrigo Silva, em Barbacena.